ALÉM DAS CONSTRIÇÕES DO TEMPO E DO ESPAÇO

Autor: Gregorio Baremblitt

Um jovem especialista em videoarte tem empreendido uma série de trabalhos inspirados na obra de Gilles Deleuze e Félix Guattari.


No entanto, estas cartografias não são apenas versões semióticas singulares de um pensamento extraordinário que marca uma metamorfose na cultura do século XXI. Estas invenções audiovisuais são parte de um dispositivo de produção e de veiculação genuinamente expressivo do paradigma ético, estético e político que dramatiza conspicuamente o “espírito” revolucionário da esquizoanálise. Os vídeos são distribuídos por correio, aleatoriamente, numa aposta insólita na potência do acaso.


Neste dispositivo anônimo e generoso, os agenciamentos coletivos de enunciação e os agenciamentos maquínicos de corpos se transmutam incessantemente uns nos outros, efetuando uma máquina de guerra apta para acoplar-se incidentalmente com imprevisíveis máquinas de beleza, de amor, e assim infinitamente. Os vídeos desta série propiciam perceber EM ATO como as categorias filosóficas e as funções científicas acontecem e devêm dramatizadas em variações estéticas simultâneas, e como estas, por sua vez, podem dramatizar-se em ações históricas político-sociais inovadoras.


As imagens e os sons destes vídeos funcionam como multiplicidades que proliferam incessantemente em todas as direções, mudando sem parar de natureza. Seus elementos são simulacros, ou seja, diferenças de uma variação contínua na que toda identidade se dissolve. Caos, caosmos e cosmos se insinuam como fulgores da imanência e o espectador é afetado por um eclipse e pela absorção nas vibrações e velocidades das quais regressa estranha e intensamente mudado.


Produzir e assistir a estes vídeos é um experimento sem princípio e sem fim. Seus efeitos não são previsíveis
nem localizáveis. Seus usos performáticos e suas conexões viáveis são inumeráveis. Em nosso caso (de quem escreve estas linhas), o primeiro “emprego” que temos dado a estas belas fitas tem sido pedagógico. Deleuze e Guattari dizem em alguma parte que “uma coisa é elogiar ou falar da multiplicidade, outra coisa é fazê-la mesmo”. Como “docentes” de esquizoanálise, quando tivemos que definir a multiplicidade, esses vídeos nos serviram para, ao projetá-los, apenas acrescentar “multiplicidade é isso”. Como admirador e praticante da esquizoanálise, só posso saudar nesta obra um acontecimento que prova a potência da vida, neste caso, da vida jovem.


Agradeço à vida ter escolhido a este jovem para ser seu efetuador, e agradeço a este jovem que me tem permitido comentar esta cartografia, uma de tantas que o espera.

Gregorio Baremblitt é Médico psiquiatra e docente livre autorizado em Psiquiatra pela Faculdade de Medicina
da Universidade Nacional de Buenos Aires. Membro fundador do Instituto Félix Guattari de Belo Horizonte.
Livros publicados em português: “Progressos e retrocessos em psiquiatria e psicanálise”, São Paulo/Rio de Janeiro,
Ed. Global/Ed. Ground; “O inconsciente institucional”, Petrópolis, Ed. Vozes; “Ato psicanalítico, ato político”,
Belo Horizonte, Ed. Cegrac; “Grupos, teoria e técnica”, Rio de Janeiro, Ed. Graal Ibrapsi; “Cinco lições sobre
a transferência”, São Paulo, Ed. Hucitec; “Lacantroças”, São Paulo, Ed. Hucitec; “Introdução à esquizoanálise”,
Belo Horizonte, Ed. Instituto Félix Guattari; “Compêndio de análise institucional e outras correntes”, Belo Horizonte,
Ed. Instituto Félix Guattari.

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